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Elo-Prosa & Poesia-entre nós


quinta-feira, 8 de abril de 2010

Elo- prosa e poesia- entre nós



                                Elo- prosa e poesia entre nós


 


    
Prosa/Poesia/Prosa Poética


 Prosa/Poesia/Prosa Poética é recorte de uma publicação
da revista ArsCientia, (informação da autora em setembro de 2014)

Autora - Ana Maria Junqueira Fabrino. Da revista ArsCientia,

É praticamente impossível refutar a definição clássica de prosa e poesia: prosa – escrita contínua, linha que segue seu curso, uso de raciocínio lógico; e poesia – escrita em versos, caracterizada por efeitos sonoros e imagens sensíveis. Há algo especial na poesia, despertado pela evocação de imagens, provocando como efeito o estímulo à emoção, ao arrebatamento, à exaltação, responsáveis pelo efeito estético sugerido pela poesia, diferentemente dos conceitos e juízos transmitidos pelos textos em prosa.
Importa ressaltar que a simples disposição do texto em versos não o tornará poesia – é possível haver uma narração em verso, sem prejuízo do entendimento, já afirmava ARISTÓTELES na Arte Poética (s/d: 252):
O historiador e o poeta não se distinguem um do outro, pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso (pois, se a obra de Heródoto houvesse sido composta em verso, nem por isso deixaria de ser obra de História, figurando ou não o metro nela). Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.
PLATÃO também se preocupava com a poesia, mais com seu uso que com sua definição, tanto que chegou a banir os poetas de sua República (1983:451):
- Ora a verdade é que – prossegui eu – entre muitas razões que tenho para pensar que estivemos a fundar uma cidade mais perfeita do que tudo, não é das menores a nossa doutrina sobre a poesia.
- Que doutrina?
- A de não aceitar a parte da poesia de caráter mimético. A necessidade de a recusar em absoluto é agora, segundo me parece, ainda mais claramente evidente, desde que definimos em separado cada uma das partes da alma.
Além de banir a poesia da república, Platão também a colocou num nível drasticamente inferior à filosofia, gerando certa incoerência com Aristóteles, que julgava a poesia mais filosófica e de caráter mais elevado que a História (op. cit.: 252). A distinção nessa época (século V a.C.) era entre poesia e filosofia, que depois passaria para poesia e história e, fazendo um salto para os dias atuais, ainda em sistema binário, entre prosa e poesia, dentro de um ambiente literário. Assim, é também pertinente apresentar algumas teorias sobre o que é considerado literatura ou não.
No ensaio “A noção de literatura”, TODOROV (1980:11-22) expõe a dificuldade de classificar o que é literatura ou não, argumentando que o conceito de literatura, no sentido atual, é bem recente: data apenas do século XIX. Mesmo a partir de fórmulas como a classificação funcional ou estrutural da literatura, a admissão de que literatura é “ficção” versus “realidade” relatada pela História não leva a uma definição rigorosa, graças à infinidade de discursos que vêm sendo praticados. Muda, então, a abordagem, para um questionamento não mais no nível literário, mas no discursivo. Assim, são tipos de discursos que passam a ser analisados e a crônica lírica, misto de realidade com ficção e poesia, é um desses discursos. Um breve passeio pela noção de literatura poderá tornar mais esclarecedora essa mudança de enfoque.
Uma idéia geral de literatura é a presente no senso comum: conjunto de manifestações artísticas verbalizadas por uma comunidade, de forma escrita ou oral. Daí decorrem desde lendas e mitos orais ao que seria o início da cultura ocidental, didaticamente situada na Grécia e popularizada pelos filósofos Platão e Aristóteles, principalmente. Eles sistematizaram conceitos básicos que evoluíram para o conjunto hoje chamado de literatura. Partiram de distinções binárias como história e filosofia, história e tragédia, tragédia e comédia, verso e prosa. Não há uma linha demarcatória definitiva entre esses aspectos.
Na Grécia antiga, a história era cantada em versos, mas era verídica; havia a distinção entre poesia e retórica, mas elas se encontravam. Platão via em Górgias o exemplo vivo das possibilidades que a linguagem oferecia: ele fazia retórica acompanhada de poesia, num estilo original, que causava estranhamento e era chamado de “uma parte da adulação” por PLATÃO( s/d : 63) que admitia como útil apenas o método dialético: “maneira de compor e decompor as idéias”, que buscava “abarcar num só golpe de vista todas as idéias esparsas de um lado e de outro e reuni-las em uma só idéia geral” , a qual poderia ser chamada de “arte retórica”, iniciada por Trasímaco e seguida por Tísias e Górgias. Eles “mostraram finalmente como se fala com poucas palavras e como se pode pronunciar um discurso de tamanho infinito”(PLATÃO, s/d : 245). Nem por isso essa prática seria menos condenável, pois era uma variação dos sofistas. Górgias mereceu um comentário também desfavorável de ARISTÓTELES (s/d: 174):
Como parece que os poetas, não obstante a frivolidade dos assuntos por eles tratados, adquiriam, graças ao estilo, boa reputação, em primeiro lugar começou por se adotar o estilo poético. Assim procedeu Górgias. Ainda hoje muitas pessoas desprovidas de instrução imaginam ser esta a melhor maneira de se exprimir.
A “confusão” entre poesia e oratória era inadmissível. O que deveria permanecer era a distinção clara entre a produção poética e seus diversos gêneros, que tinham por finalidade obter o belo poético, e a arte retórica, que visava a ensinar o possível; ou seja, poesia de um lado e prosa de outro.
Atualmente, por mais que o imediatismo imponha a permanência das distinções – literatura, não-literatura; prosa, poesia; fala, escrita; é inevitável esbarrarmos em fronteiras meramente imaginárias, pois a quantidade de manifestações é tão grande que espaços intermediários foram sendo criados e uma nova abordagem foi adotada – hoje não se trata mais de atitudes estanques, formas sistematizadas de acordo com a estrutura ou função (como no estruturalismo russo que visava demonstrar a existência de um “esqueleto” único presente em determinado “gênero”, por exemplo, o conto). O que passa a vigorar é uma permissão para que novas modalidades sejam criadas.
A vida literária é um dos elementos que constituem o contexto da obra literária, e atualmente ela é bem ampla: pode estar no jornal, que publica crônicas de autores que já pertencem à literatura, ou que irão ou não pertencer, dependendo da qualidade literária de seus textos; pode estar no computador (há vários autores que publicam pela internet) ou em lugares inusitados (nas ruas, em cartazes, nos shoppings...).
O fato de os espaços literários se multiplicarem não implica a aceitação de que toda produção daí advinda seja literária, mas há uma possibilidade de que isso ocorra. O que se nota é que a fronteira que define a prosa e a poesia tornou-se mais flexível - temos textos em prosa impregnados de poesia, como a narrativa de Marcel Proust, James Joyce e Guimarães Rosa. Temos poesia virtual, jogos de palavras que não apresentam a forma poética clássica - versos, estrofes, rimas - mas fazem surgir o efeito poético - a plurissignificância. Efeito dos tempos atuais: muitos saberes, pouco tempo para depurá-los; assim, a poesia entra na prosa, e a prosa entra na poesia.
Citações:
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
PLATÃO. Górgias. Lisboa: Edições 70, s/d.
_______ .A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
TODOROV, T. Os Gêneros do Discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1980.


FABRINO, A. M. J. . Poesia/prosa/prosa poética. São Paulo: Ivy Judensnaider, 2005 (artigo em revista eletrônica).

Elo- prosa e poesia entre nós 04/02/2014






8 comentários:

  1. Sim, minha amiga: comunicar é compartilhar. Grata pela visita ao meu blog. Paz em Ñanderu, Graça Graúna

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  2. Cara Valdiva,

    Muito me emocionou sua visita ao Nômade Escola de Poesia... Muito obrigado! Tb sou educador e apoio sua idéia de compartilhar conhecimento.. Veja vc... Deparo-me com um texto acerca de poesia, prosa... Aristóteles... Sou professor de Filosofia...

    Luz e paz!!

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  3. Whesley,

    que surpresa boa, você me seguir!!! Tenho pouco conhecimento e habilidade na navegação pela internet e nem acreditava possível me comunicar e trocar idéias, informações, conhecimento. E no entanto tenho me encantado com os blogueiros. Quanta criatividade, quanto poder de comunicação!!! Estou feliz pelos encontros. Com educador e filósofo,então!!
    Olha, vou buscar melhorar meu trabalho pra ser mais satisfatória nesse vai e vem pela navegação.

    Luz e paz!!!

    Valdiva

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  4. Muito obrigada pelo seu carinho, suas palavras, seu prestígio ao meu blog. Fiquei emocionada!
    Parabéns pelos seus blogs. Uma pessoa de alma linda!
    Que Deus abençoe!
    Um grande abraço!

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  5. Oi San. Quase não tenho tido possibilidade de tempo para o trabalho nos blogs. Quando entro no seu espaço sinto o silêncio de um jardim e a musicalidade suave como o som do farfalhar de folhas ao vento, ou o som suave das águas calmas. Música e silêncio em harmonia tem segredos que poucos conhecem. Seu trabalho é digno de elogios. Abracço grande. Valdiva Araujo santos

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  6. O texto Prosa/Poesia/Prosa Poética De: ... colaboradores não conta com as devidas fontes: autor - Ana Maria Junqueira Fabrino e local de publicação: revista ArsCientia, que já não circula, mas o texto continua sendo de um autor, no caso, eu. Portanto, exijo que as fontes sejam devidamente citadas, fato comprovado pelo texto ser um recorte de minha dissertação de mestrado defendida na FFLCH- USP e devidamente publicada.

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    1. Oi, Ana Maria Junqueira. É prática minha compartilhar os textos com o nome do(a) autor(a). Peço desculpas pela falta grave. Vou corrigir. Um abraço.

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Prosa e Poesia

Prosa/Poesia/Prosa Poética
De: ... colaboradores

imagem: Beatrice Coron

É praticamente impossível refutar a definição clássica de prosa e poesia: prosa – escrita contínua, linha que segue seu curso, uso de raciocínio lógico; e poesia – escrita em versos, caracterizada por efeitos sonoros e imagens sensíveis. Há algo especial na poesia, despertado pela evocação de imagens, provocando como efeito o estímulo à emoção, ao arrebatamento, à exaltação, responsáveis pelo efeito estético sugerido pela poesia, diferentemente dos conceitos e juízos transmitidos pelos textos em prosa.
Importa ressaltar que a simples disposição do texto em versos não o tornará poesia – é possível haver uma narração em verso, sem prejuízo do entendimento, já afirmava ARISTÓTELES na Arte Poética (s/d: 252):

O historiador e o poeta não se distinguem um do outro, pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso (pois, se a obra de Heródoto houvesse sido composta em verso, nem por isso deixaria de ser obra de História, figurando ou não o metro nela). Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.

PLATÃO também se preocupava com a poesia, mais com seu uso que com sua definição, tanto que chegou a banir os poetas de sua República (1983:451):

- Ora a verdade é que – prossegui eu – entre muitas razões que tenho para pensar que estivemos a fundar uma cidade mais perfeita do que tudo, não é das menores a nossa doutrina sobre a poesia.
- Que doutrina?
- A de não aceitar a parte da poesia de caráter mimético. A necessidade de a recusar em absoluto é agora, segundo me parece, ainda mais claramente evidente, desde que definimos em separado cada uma das partes da alma.

Além de banir a poesia da república, Platão também a colocou num nível drasticamente inferior à filosofia, gerando certa incoerência com Aristóteles, que julgava a poesia mais filosófica e de caráter mais elevado que a História (op. cit.: 252). A distinção nessa época (século V a.C.) era entre poesia e filosofia, que depois passaria para poesia e história e, fazendo um salto para os dias atuais, ainda em sistema binário, entre prosa e poesia, dentro de um ambiente literário. Assim, é também pertinente apresentar algumas teorias sobre o que é considerado literatura ou não.

No ensaio “A noção de literatura”, TODOROV (1980:11-22) expõe a dificuldade de classificar o que é literatura ou não, argumentando que o conceito de literatura, no sentido atual, é bem recente: data apenas do século XIX. Mesmo a partir de fórmulas como a classificação funcional ou estrutural da literatura, a admissão de que literatura é “ficção” versus “realidade” relatada pela História não leva a uma definição rigorosa, graças à infinidade de discursos que vêm sendo praticados. Muda, então, a abordagem, para um questionamento não mais no nível literário, mas no discursivo. Assim, são tipos de discursos que passam a ser analisados e a crônica lírica, misto de realidade com ficção e poesia, é um desses discursos. Um breve passeio pela noção de literatura poderá tornar mais esclarecedora essa mudança de enfoque.

Uma idéia geral de literatura é a presente no senso comum: conjunto de manifestações artísticas verbalizadas por uma comunidade, de forma escrita ou oral. Daí decorrem desde lendas e mitos orais ao que seria o início da cultura ocidental, didaticamente situada na Grécia e popularizada pelos filósofos Platão e Aristóteles, principalmente. Eles sistematizaram conceitos básicos que evoluíram para o conjunto hoje chamado de literatura. Partiram de distinções binárias como história e filosofia, história e tragédia, tragédia e comédia, verso e prosa. Não há uma linha demarcatória definitiva entre esses aspectos.

Na Grécia antiga, a história era cantada em versos, mas era verídica; havia a distinção entre poesia e retórica, mas elas se encontravam. Platão via em Górgias o exemplo vivo das possibilidades que a linguagem oferecia: ele fazia retórica acompanhada de poesia, num estilo original, que causava estranhamento e era chamado de “uma parte da adulação” por PLATÃO( s/d : 63) que admitia como útil apenas o método dialético: “maneira de compor e decompor as idéias”, que buscava “abarcar num só golpe de vista todas as idéias esparsas de um lado e de outro e reuni-las em uma só idéia geral” , a qual poderia ser chamada de “arte retórica”, iniciada por Trasímaco e seguida por Tísias e Górgias. Eles “mostraram finalmente como se fala com poucas palavras e como se pode pronunciar um discurso de tamanho infinito”(PLATÃO, s/d : 245). Nem por isso essa prática seria menos condenável, pois era uma variação dos sofistas. Górgias mereceu um comentário também desfavorável de ARISTÓTELES (s/d: 174):

Como parece que os poetas, não obstante a frivolidade dos assuntos por eles tratados, adquiriam, graças ao estilo, boa reputação, em primeiro lugar começou por se adotar o estilo poético. Assim procedeu Górgias. Ainda hoje muitas pessoas desprovidas de instrução imaginam ser esta a melhor maneira de se exprimir.

A “confusão” entre poesia e oratória era inadmissível. O que deveria permanecer era a distinção clara entre a produção poética e seus diversos gêneros, que tinham por finalidade obter o belo poético, e a arte retórica, que visava a ensinar o possível; ou seja, poesia de um lado e prosa de outro.
Atualmente, por mais que o imediatismo imponha a permanência das distinções – literatura, não-literatura; prosa, poesia; fala, escrita; é inevitável esbarrarmos em fronteiras meramente imaginárias, pois a quantidade de manifestações é tão grande que espaços intermediários foram sendo criados e uma nova abordagem foi adotada – hoje não se trata mais de atitudes estanques, formas sistematizadas de acordo com a estrutura ou função (como no estruturalismo russo que visava demonstrar a existência de um “esqueleto” único presente em determinado “gênero”, por exemplo, o conto). O que passa a vigorar é uma permissão para que novas modalidades sejam criadas.

A vida literária é um dos elementos que constituem o contexto da obra literária, e atualmente ela é bem ampla: pode estar no jornal, que publica crônicas de autores que já pertencem à literatura, ou que irão ou não pertencer, dependendo da qualidade literária de seus textos; pode estar no computador (há vários autores que publicam pela internet) ou em lugares inusitados (nas ruas, em cartazes, nos shoppings...).

O fato de os espaços literários se multiplicarem não implica a aceitação de que toda produção daí advinda seja literária, mas há uma possibilidade de que isso ocorra. O que se nota é que a fronteira que define a prosa e a poesia tornou-se mais flexível - temos textos em prosa impregnados de poesia, como a narrativa de Marcel Proust, James Joyce e Guimarães Rosa. Temos poesia virtual, jogos de palavras que não apresentam a forma poética clássica - versos, estrofes, rimas - mas fazem surgir o efeito poético - a plurissignificância. Efeito dos tempos atuais: muitos saberes, pouco tempo para depurá-los; assim, a poesia entra na prosa, e a prosa entra na poesia.

Citações:
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
PLATÃO. Górgias. Lisboa: Edições 70, s/d.
_______ .A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
TODOROV, T. Os Gêneros do Discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1980.